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Apanhador de Salvados

Do livre corso e barateio

Apanhador de Salvados

Do livre corso e barateio

Afasia

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Jul22

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Título: Afasia

Autor: Luís de Miranda Rocha

Editor: Editorial Inova

Data: Porto 1978

16 páginas (plaqueta com desenho de Armando Alves)

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        Ao vizinho e amigo Luís de Miranda Rocha (n. Mira, 1947 - Coimbra, 2007) devo ofertas, troca de guaches e muita afabilidade.

        Jornalista, depois professor, foi sempre poeta, e isso sobressaía (também) na confraternização. Não o ouvi recitar. Antologiou Francisco Bingre, alguma poesia açoriana e, claro, Carlos de Oliveira, de quem tentava adivinhar a escrita da (mesma) terra, e a quem deve algumas secções distintivas: a afasia primeiro, ou a luta pela expressão, depois a aridez da areia com que se brinca, finalmente o ritmo quebrado e a repetição.

Teatro Aberto

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Jun22

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Título: Teatro Aberto

Autor: Y. K. Centeno

Editor: Edições Ática

Data: Lisboa 1974

Capa: Vítor Simões

184 páginas

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       Reunião de pequenas peças teatrais, ou, antes, textos de difícil representação, tal o delírio de situações nas quais o fator comum é a decomposição. A peça abaixo transcrita é a miniatura por excelência. Por que a frase «o público é público e espetáculo»? Porquê "dead"? Porquê "portuguese"? Ou, ainda: palavras para quê?

d.maria.png

(Foto de 2017, daqui.)

***

«LIVING EXERCISE ON PORTUGUESE DEAD THEATRE

 

1.

        Palco cheio de cadeiras.

        Entra um homem, guiado por um funcionário que lhe indica o lugar. Senta-se, mas não gosta. Muda para uma cadeira mais central, e à frente.

        Fica sentado, confortável, satisfeito, a olhar para o público, à espera que o espetáculo comece.

        Fica assim muito tempo.

        À impaciência do público corresponde a impaciência dele. Se o público se indigna, também ele. O público é público e espetáculo, e o homem improvisa, nessa base.

        Quando o público, já farto, rebentar (pateada, gritos, assobios, etc.), o homem levanta-se e diz:

HOMEM

        Não há nada a fazer.

        Não há texto!

        Eu se fosse a vocês ia-me embora.

        Eu vou-me embora!

 

2.

        E vai.

        Fica o palco vazio.

        Não desce o pano.

        O público terá de chegar por si próprio à conclusão de que não há mais nada a fazer senão ir mesmo embora.

        Quando todos saírem, então ouvem-se aplausos, muitos, vindos dos bastidores.»

Viagem a Portugal

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30
Mai22

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Título: Viagem a Portugal

Autor: José Saramago

Editor: Círculo de Leitores

Data: Lisboa 1999

300 páginas

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        É um ribatejano da Azinhaga quem o diz:

        «E este vale, como explicar o que ele é? A estrada vai andando às curvas, por entre montes e montanhas, e é a costumada formusura, nem o viajante espera mais do que tem. Então, aqui, num ponto entre Fafe e Cabeceiras de Basto, numa volta da estrada, o viajante tem de parar, e na página mais clara da sua memória vai pôr a grande extensão que os seus olhos vêem, os planos múltiplos, as cortinas das árvores, a atmosfera húmida e luminosa, a neblina que o sol levanta do chão se dissipa, e outra vez árvores, montes que vão baixando e depois tornam a erguer-se, ao fundo, sob um grande céu de nuvens. O viajante está cada vez mais crente de que a felicidade existe. Estas coisas merecem a sua coroação.»

        Depois de 'felicidade', a palavra 'paraíso' aparece na p. 283 a propósito do Palácio da Pena em Sintra, portanto uma referência cultural. Brevíssimas linhas, por exemplo, dedica à Figueira da Foz (um terço daquilo que escreve sobre a minha povoação vizinha), chega aqui pela Serra da Boa Viagem mas não é surpreendido pela monumentalidade do Cabo Mondego. A falta de luz elétrica impede a visita ao Museu Municipal, e vai embora.

        Viagem a Portugal lê-se saborosamente. A expedição, entre outubro de 1979 e julho de 1980, resultou do convite do Círculo de Leitores. Foi ótima recomendação para o autor sair das convulsões políticas da época e dar o verdadeiro início à atividade literária, reconhecida no Prémio Nobel de 1998.

Dia internacional da língua portuguesa

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Mai22

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        A efeméride vive com Miguel Torga, para quem a língua, junto com o chão que pisamos, é o verdadeiro legado do nosso passado.

        Mas o idioma vive peripécias inverosímeis; a atual convivência de duas ortografias é certamente uma situação confusa para o aprendiz estrangeiro.

        Reproduções do livro Miguel Torga 1907-1995, Comemorações do Centenário do Nascimento - Teatro de Vila Real Maio 2007.

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Paris, Os Passeios de um 'Flâneur'

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05
Mai22

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Título: Paris, Os Passeios de um Flâneur

Subtítulo: À descoberta de uma cidade que não vem nos guias.

Autor: Edmund White

Editor: Asa Editores

Tradução: José Vieira de Lima

Data: Porto 2004

256 páginas

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        O autor norte-americano cruzou-se com Mário Cesariny no início da década de 70 em Roterdão. Incorporou a figura do 'flâneur' que passeia entre os salões aristocráticos e as margens sombrias do Sena.

        A informação, transcrita a seguir, surpreende pela superioridade adquirida da situação contrária, ou seja, o espólio à vista e a contento do leitor das bibliotecas públicas.

        «Oh, em Paris há de tudo... [ Mas ] A outra coisa que falta é um sistema decente de bibliotecas públicas. Não há uma única biblioteca que tenha estantes abertas, o leitor curioso não pode explorar e folhear à vontade os livros - não, nas bibliotecas públicas parisienses não existe esse paraíso das descobertas intelectuais inesperadas.»

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        Sobre a revista Bang! tenho um reparo a fazer: sugiro a substituição do atual formato A4 pelo tamanho dos 'comic-books' americanos. Tornar-se-ia certamente mais agradável de ler, tanto pelo leitor sentado como pelo leitor deitado.

        Não referindo as HQ's ou ilustrações de página inteira - também admiráveis no formato americano -, custa verificar páginas de texto bem espaçado atirando as ilustrações acompanhantes para tamanhos diminutos.